quinta-feira
éire [ˈeːɾʲə]
terça-feira
sábado
solsolsol
não conseguir desfrutar deste calor confessamente invulgar porque assumo sempre o mesmo (mau) e me ponho a pensar na catástrofe climática que poderá estar na causa dele, enquanto ignoro a minha catástrofe emocional pessoal de não conseguir aproveitar as coisas. de sempre igualar algo que foge ao meu normal a algo mau que está a acontecer/que ainda está por acontecer. de encarar o que é. a catástrofe de não conseguir olhar para o sol que teima em brilhar e pensar "boa, é o sol", sorrir e seguir o meu dia feliz por ainda não terem chegado os dias cinzentos. a catástrofe de me focar na desgraça iminente que 28 graus em fins de outubro podem estar a adivinhar. //porque mesmo que seja assim e que tudo vá pelo cano abaixo, de que vale focar-me nisso//
(mas também pode ser que este pânico todo da vida e de viver tenha a ver
com o facto de dormir pouco, tarde e a más horas. é algo a averiguar)
sexta-feira
bairro da graça II
(fui à Graça — 44:38:35 minutos a caminhar — e senti-me aliviada pela cerca continuar a ser um porto seguro no meio de um bairro que sempre amei mas que reconheço cada vez menos. gostava de não sentir o que sinto, mas é como se me fossem arrancando pedaços do corpo, e a cada vez mais velocidade, não tem como o coração ficar quieto. a crew hassan que passou a ser um supermercado, o portão do logradouro dos A70/núcleoA70 que continua fechado anos após serem expulsos pela senhoria de olhos postos num hotel, a padaria artesanal com a senhora querida de cabelo curto que eu via todos os dias a caminho do trabalho e que agora é loja de kebab, o meu querido Mortara que foi desventrado e agora se apresenta num nem sei o quê cheio de azulejos de cores pastel que vende beterraba frita a mil euros e eu nem tive coragem de falar com o Gabriel sobre isso (o nosso primeiro date foi lá). queria muito não sentir esta raiva, aceitar que a vida muda, que os lugares se vão, mas sinto cada vez menos que pertenço, ou, pior, que sou forçada a não pertencer. às vezes pergunto-me se será apenas pessimismo, se eu que vejo a vida de outra forma agora, se tudo continua igual e eu que mudei, mas no fundo sei que não, sei que andar por lisboa, pela minha lisboa, é agora como quando esbarramos na rua numa pessoa de quem já gostámos muito e que hoje a sentimos outra. por agora, de volta à alameda, a banda sonora do filme Amélie ecoa pela rua e eu tento acreditar que a esperança ainda existe e ganhar forças para sair à rua em busca de novos pedaços para tentar colar no lugar de onde os outros me forram arrancados. talvez não seja bom sermos feitos de sítios, mas eu não sei ser de outro jeito.)
quinta-feira
bairro da Graça
estou sentada ao computador, a resistir, como sempre, fazer o que tenho a fazer para os vídeos da horta. o meu vizinho está a tocar o cavaquinho dele e o ar parece estranhamente cheio de algo que me transporta para Berlim, ou para um sítio desses, com imagens de canais e vegetação (gosto tanto de canais). há um passarinho que canta, e que me fez tirar os fones mais cedo para ver se era mesmo real ou se o canto que estava a ouvir era da música. por algum motivo, parece primavera, e isto confunde-me, mas também me enche de qualquer coisa viva. sinto uma vontade desmedida de me levantar, pegar no caderno, nos fones, e partir em direção à Graça-
só para ver a vida a acontecer-
segunda-feira
um dia
where will all of this go if one day we disappear and/or one day computers and phones and the internet disappear
what will be of all of these words, all of these memories, all of these images pictures advice, where will they all go, will they keep existing in the ether
sábado
(uma playlist da namorada do Mac Demarco)
terça-feira
segunda-feira
quinta-feira
io non so niente, ma mi piace tutto
parei um pouco de colecionar nomes de coisas que vejo ou leio, mas o Parthenope conquistou-me um pedaço (especial) do coração.
quarta-feira
terça-feira
take me home
18:03 da terceira terça-feira de agosto e senti a primeira brisa do fim do verão a ouvir The Dinner do ROLE MODEL
domingo
domingo e
comprei o cd novo da Billie Marten 🐑
estou a ouvir uma das músicas novas da dodie sem conseguir parar (esta aqui em baixo)
quinta-feira
🍋🍋🍋
há meses (anos?) que quero um limoeiro, e aquela vez em que ficámos numa casa de praia que tinha um a dar sombra à sala só reforçou esse desejo. hoje vi um vídeo de um senhor a propagar plantas a partir de folhas e lembrei-me de que posso simplesmente abrir um limão e semear um com as sementes.
segunda-feira
quinta-feira
coisas para ser feliz
- jubilation da Norma Tanega a tocar
- uma praia/carro nas estradas da costa
- o as terças com Morrie para ler
terça-feira
segunda-feira
i never thought I'd miss you half as much as i do /
acender uma vela durante o dia na mesa pequenina da cozinha, ouvir os pássaros e a "Fool Me a Good Night" de Labi Siffre enquanto o incenso queima no móvel da entrada. o céu está azul, o prédio do vizinho amarelo. talvez tenha chegado o verão.
quarta-feira
aos meados de junho
comecei a deixar de ser capaz de ler o meu horóscopo; é um pouco impossível acreditar que estive anos a preparar-me para esta época de abundância após a fricção e que os meus poderes de manifestação estão mais poderosos do que nunca quando o mundo à nossa volta parece estar a desmoronar-se e a aprofundar uma dor cada vez mais coletiva, quando o ódio se torna difícil de ignorar e os nossos esforços para acabar com a injustiça parecem ser tão ínfimos, ainda que muito válidos em si mesmos. não quero dizer com isto que está tudo perdido, mas talvez haja coisas mais importantes do que juntar imagens no Pinterest daquilo que gostaria de ver na minha vida. de que vale a minha felicidade individual se for erigida numa torre de marfim?
quinta-feira
segunda-feira
🐈🐈🐈🐈🐈
uma ninhada de gatinhos apareceu no quintal vizinho como uma lufada de ar fresco; eram cinco e passaram a visitar-nos e, como ninguém cuidava deles para além de uma tigela com comida e de um balde com um cobertor, onde dormiam, demos-lhes uns carinhos e cuidámos deles na medida do possível, e, em especial, de uma gatinha que parecia não ir sobreviver, a mais pequenina, que acabámos por adotar e que conquistou o coração da minha mãe que jurou nunca mais ter pets quando perdeu uma cachorrinha há décadas. fiquei a semana após o Natal a dar-lhe carinhos, a aquecer-lhe um saco de água quente para passar as noites e a aquecer latinhas para ultrapassar a falta de olfato que o raio da constipação que ela tinha em cima lhe causava. os outros iam e vinham, gatinhos fortes e aparentemente mais saudáveis. um cinza lindo e carinhoso, que só queria festinhas, um amarelinho mais pequenino e receoso, mas que lá ia procurando festinhas, outro amarelinho com uma pancinha e muito apetite e outro cinza clarinho que nunca se aproximou e nunca soube se era gatinha ou gatinho. passados 4 meses, todos eles desapareceram. a gatinha foi eutanasiada após uma paralisia há um mês, talvez por culpa nossa que não soubemos cuidar (e mais minha, por estar mais preocupada com o meu gato e o stresse que ele estava a atravessar por dividir casa com uma pequenina companheira e por não estar presente como devia), ou talvez do destino ou da vet que não viu outra alternativa, não sei. vivo longe e cheguei a casa dos meus pais no dia após ela falecer e desde aí que não consigo andar sem carregar comigo esse sentimento de impotência e de culpa, por ela e pelos irmãozinhos. espreitei no quintal vizinho e vi uma mancha de pelinho amarelo por entre as tábuas da pequena barraca que está a desmoronar-se. chamei e chamei e chamei, mas manteve-se imóvel durante os três dias que espreitei. após isso deixei de o fazer por já não aguentar mais saber que estava ali um dos bichinhos que tive no colo meses antes. os outros, não sei o que foi deles e todos os dias deixo a janela aberta para o caso de um deles voltar. há um vizinho novo no bairro e diz-se que não gosta de gatos. infelizmente, aqui, ainda há quem seja assim e recorra a métodos medonhos para os manter fora dos seus quintais. então, o desespero de não saber o que lhes aconteceu com a quase certeza de um fim desses mete-me o estômago do avesso. e deixa-me com a culpa de ter confiado na esperança de que iriam ficar bem e crescer e fazer as suas vidas ao invés de pegar em todos eles e levá-los para o abrigo municipal de bichinhos para que fossem adotados e recebessem o amor que mereciam.
de há um tempo para cá, a vida têm andado estranha, complicada e sem luz, e ver dois bichinhos pequenos, o cinzinha querido e o pancinha, a jogar à bola com o meu primo como se fossem cachorrinhos, envoltos no riso dele que ecoava no ar, a dar pinotes, trouxe uma luz num mundo que parece cada vez mais sufocante. a obsessão da Minnie (a pequena gatinha) com mãos, a querer sempre mordiscá-las, e o jeito dela de bebé de querer estar sempre no colinho foram coisas a que não soube dar o devido valor, fosse pelo que fosse. queria ter sido mais gentil, ter-lhe dado mais carinho, ter percebido mais o bebé que ela era, como percebi antes, há 10 anos, quando o meu gato apareceu na minha vida, pequenino e orelhudo. temo ter perdido algo nestes anos todos e temo que essa falta de compreensão, empatia, compaixão e amor tenha ajudado a negar a existência a um bebé que era apenas um bebé. agora estamos de volta a uma sombra que envolve a casa e um peso que não sei como aliviar, num mundo que parece cada vez menos fazer sentido, com paredes que parecem cada vez mais avançar para perto e fechar-me num sítio de onde não sei como sair, escuro e sem esperança. tomara saber que caminho tomar e como honrar a memória de serzinhos que trouxeram tanta alegria e que não deviam ter desaparecido tão cedo. mas ainda não sei, e por agora é só isso.
sexta-feira
de—orbit
após uma viagem de estrada até Ferrel e pensar muito sobre suportes físicos e suportes digitais (e o meu amor por suportes físicos), surge o sonho de voltar a ter uma coleção de cds digna da minha bolsinha de cds do ensino básico que possa ouvir sempre que estou na estrada
lembro-me das vezes que conduzia de coimbra até casa a ouvir os cds da lana del rey que roubava à minha irmã para estas viagens e de sentir-me muito eu. preciso de espaço para ouvir e de espaço para ser eu a escolher
espaço ☆ espaço ⋆ espaço ⋆。°✩ espaço espaço
radiovilnius.live
segunda-feira
descobertas de um sábado de sol no meio da chuva
sábado
penguin emoji
hoje é Dia da Mulher e pode ser que consiga lavar toda a roupa que tenho no cesto da roupa suja. ontem fui simpática comigo mesma e terminei o trabalho que tinha para hoje para poder aproveitar o meu fim de semana como deve ser, sem nada disso a ocupar-me a mente. está a chover há uns cinco dias e assim há de continuar, todos os dias me agradeço por ter finalmente comprado o belo do estendal para a roupa. não, não quero ser produtiva nem eficaz, obrigada, senhor do anúncio do instagram. quero só ser, só estar, dormir, rir, chorar, viver os ciclos em vez de almejar um crescimento infinito sem fim à vista. não fazer nada, olhar para as paredes quando for tempo de olhar para as paredes. quero abraçar a existência cíclica que habita dentro desta vida que me foi dada. sem pressas ou perfeições e com alguns devaneios pelo meio. a regar as plantas da minha mini varanda e espalhar-me na cama só mesmo para esticar o corpo. sem me castigar pelo facto de fazer ou deixar de fazer.
(nota:a alma vive as experiências como experiências)
quarta-feira
brainrot
a vida está a dar-me cabo do cérebro. não fazer nada além de trabalhar e estar online está a dar-me cabo do cérebro. não saber estar com os meus tempos vazios e com os meus tédios está a dar-me cabo do cérebro. estar nas redes sociais e no discord e a ver tv ao mesmo tempo está a dar-me cabo do cérebro. não ver o sol há dias durante dias está a dar-me cabo do cérebro. não saber como descer deste carrossel em andamento está a dar-me cabo do cérebro. fog fog fog
(nunca o disse, mas é uma treta tentar responder aos vossos comentários aqui. tenho de sair de todas as contas e entrar naquela que está associada ao blogger, e assim que volto a entrar nas outras, deixo de conseguir responder. ainda assim, leio sempre tudo e muitos corações e muitos obrigadas<3)
quinta-feira
The reality within the dream





