domingo

Círculo Polar Ártico


As saudades de Erasmus são uma coisa que, embora se perca muitas vezes no ritmo do dia-a-dia, acaba sempre por estar lá. E, às vezes, a mínima coisinha traz uma onda gigantesca de memórias que te deixam um gosto agridoce na boca; ficas triste pelas saudades da vida que tinhas, das tuas colegas de casa que só podem ter sido tiradas da melhor sitcom que podias imaginar, das viagens e de todas as peripécias, de todas mesmo, até da vez que te perdeste em Berlim às 3h sem bateria no telemóvel e tiveste que pedir num kebab place para te deixarem uma tomada ao mesmo tempo que amaldiçoavas o carregador por ser tão lento e panicavas por ter de ir acordar os teus hosts de couchsurfing tão tarde (thumbs up Helen e Dan, meus anjos). Ficas triste pelas saudades, mas ficas feliz, tão feliz, por tudo o que viveste, coisas com que nunca sonharias. 

Vasculhando pelas minhas fotos, dou de caras com uma das melhores viagens que fiz, mesmo com os mais (ou menos?) de -15ºC a gelarem-me todos os cantinhos. Em novembro do ano passado, quase há um ano atrás, pusemo-nos a caminho da Lapónia, numa viagem organizada pela ESN (Erasmus Student Network)  Estonia. E o que vimos lá, deixou-me de boca aberta. Nunca tinha sido um sonho meu ir ali, como comprovava ao ver o entusiasmo da Lo por cruzar a linha do Círculo Polar Ártico, com os olhos a brilhar como uma criança num parque de diversões, dizendo-nos várias curiosidades do sítio, acompanhada do seu guia de viagem ao estilo da Lonely Planet, como sempre 💛

Nunca foi um sonho meu, mas não podia deixar de me sentir num. É impossível ignorar o poder daquela paisagem, do céu rosa e azul bebé, que parece não ter fim quando encontra a neve branquinha no chão. Um poder enorme, tão maior que nós. Só há um ano atrás, no verdadeiro winter wonderland:




(fotos pela minha colega de casa, Loreto; my roomate's pics, Loreto)

sábado

vamo embora


dizem-me o quão calma sou. rio para mim e conto-te. ris comigo. sabemos os dois a tormenta que trago dentro de mim. a luta comigo mesma continua e deixa-me sem saber o que vale ou não a pena. tudo perdeu a luz - sei que soa dramático pra caramba, mas é verdade, as coisas já não têm sal. tenho pensado na última vez em que me ri, daquelas gargalhadas mesmo à séria, que costumava largar nas aulas de biologia a picar o Filipe e que quase me valiam uma falta. penso, penso, penso. e porra, não me consigo lembrar. fico triste de não me lembrar. não queiras não te lembrar da tua última gargalhada. estou a reler isto e a ver o quão deprimente soo (e sempre soei por aqui, receio). mas amanhã é outro dia, e há sempre uma música da Mallu para o começar.

segunda-feira

eterno amor de além


01:31. o tempo que fica imóvel. mais um álbum da Mallu, samba leve e alma pesada. quero cama e quero colo.

exactamente um ano depois




 tenho saudades de tanto verde, de tanta leveza, de tanto frio, de tanta paz.
 missing my peaceful home of the heart.

sábado

cosmos pt2


03:52. festival que chega ao fim, eu que não consigo dormir. o vício. que continue a poder fazê-lo por tempos e tempos e tempos.

cosmos


Alguém diz com lentidão: 
“Lisboa, sabes…” 
Eu sei. É uma rapariga 
descalça e leve, 
um vento súbito e claro 
nos cabelos, 
algumas rugas finas 
a espreitar-lhe os olhos, 
a solidão aberta 
nos lábios e nos dedos, 
descendo degraus 
e degraus e degraus até ao rio. Eu sei. E tu, sabias? 

 Eugénio de Andrade

segunda-feira

catalina


o verão sem fim, o verão que já vai a meio e ainda nem começou, a vida confusa, confusa. o verão sem fim que ainda não chegou. encontrar a casa em ti, ti que não és tu mas que sou eu, encontrar a casa em mim. um deserto infinito como o verão. quente, as palmas dos pés a doer, sem saber se é gelo ou fogo, se queima ou queima. a liberdade, a liberdade que não sou capaz, que não sou eu, a liberdade que é tudo o que quero, o oásis tão bom e tão desconfortável ao mesmo tempo. o risco sem cálculos. e a paz, também. odeio a merda da matemática. vento nos cabelos, areia no ar, pele descoberta. um pôr-do-sol, porque o pôr-do-sol é a cor mais bonita de habitar. infinitos. ser infinito. ser, só ser. 

nas palavras da Jemima

Those transitional, soul-level-change moments we experience are never dramatic. Epiphanies don't really happen. They're a myth. Real transformation is boring and uncomfortable, like working out on your birthday when you have no plans. Change slips in unnoticed while you're busy trudging through something pretty unremarkable.

/\



este verão

cinema
muito cinema 
1 filme por dia
editar editar editar
deixar derivados de leite
redes sociais - menos (muito menos)

uma pirâmide de objectivos, para começar. 
sempre gostei do egipto.

terça-feira

ferramentas para não colapsar com os blues de terça-feira

comer bem
beber água
incenso
quentinho do ventilador
ouvir sufjan stevens
não ser social e tentar não me sentir mal por isso

domingo

au-rora



aqui aprendi que posso ser o que nunca pensei ser.
aqui aprendi que afinal é fácil ser uma pessoa de nasceres do sol.

especialmente quando o Sol começa a nascer às 03:29

terça-feira

o meu corpo continua tenso como na maior parte dos dias. a minha vida como a conheço está a chegar ao fim, dentro de 9 dias a Monika e a Loreto vão voltar para uma outra casa, uma casa diferente da que dividimos nos meses passados. uma casa que estará certamente mais arrumada, uma casa onde a luz não falha a cada dois dias, uma casa onde todas temos uma cama porque não há quem parta a da Oli numa festa qualquer. uma casa longe da nossa casa.



é um adeus à comuna. aos livros partilhados. às bananas sem dono, sempre propriedade comum. ao som baixinho do ukulele vindo do quarto, quando a Monika tenta conjugar cordas de nilon com cordas vocais. aos que acabavam por ficar no sofá depois de uma ou outra festa porque afinal o Karu é longe para caramba às 4h da manhã. à abóbora, a quem dissemos um adeus há algum tempo atrás. às rajadas de limpeza que poucas horas depois pareciam nunca ter acontecido. ao regular "temos de mandar um mail ao Heino!". às viagens proibidas de elevador depois das 23h, quando o vinho te faz pensar que as tuas pernas pesam o dobro. às conversas sérias à mesa sobre feminismo, consumismo e vinte outros ismos, que te deixam a pensar no quão bom é viver com gente assim. às conversas a brincar sobre relações, couchsurfers loucos, stresses de exames e histórias da noite anterior. ao não saber umas das outras quando andamos por aí a viajar. às procrastinações de tardes passadas no sofá pelas quais não te sentes mal porque há sempre alguém que está a fazer o mesmo. aos "devias ver esta série" ou "vamos ver este filme?". é um adeus à comuna, que no fim de contas foi mais uma de nós, com a sua personalidade marcada e truques aqui e ali. estou grata por tudo o que se passou dentro destas quatro paredes, decoradas com posters roubados, lembranças, escritos e sítios por onde passámos. um bocadinho de nós fica aqui.

bless this mess



Na minha escola, as casas de banho são unisexo e é a coisa mais natural do mundo. Cada pessoa tem a sua "cabine" por isso, nem se mete um problema de privacidade.

segunda-feira

aos nove de maio


estou da cor do algodão doce e os meus vizinhos de baixo estão a dar uma festa com músicas bonitas

sábado

aos seis de maio

- não sei como está a minha vida
- sei onde está
- sei onde quero que vá
- não sei o que fazer para chegar lá


hora do segundo acordar: 16:24
soundtrack: amy winehouse
mood: enevoado
confusão: geral

quarta-feira

maastrichtrichtricht

12 de Março.
Quarto do Lucas.

o céu está naquele limbo entre o dia e a noite, eu estou sentada num passeio à porta da segunda melhor pizzaria da Holanda. está cheia de pessoal novo que espera (ou melhor, desespera) com o cheiro da comida no forno. os donos trouxeram-no de Itália. não está calor nem frio, está perfeito. sinto-me feliz como há muito tempo não sentia. bicicletas passam rua acima e rua abaixo, os carros são tão poucos e a felicidade que isso me traz me surpreende. tudo me parece mais bonito e um carinho imenso inunda-me, um amor onde o que passou não importa mais. sinto que é Verão. um lugar de estacionamento onde três pessoas tentam parar e só a última consegue. a cidade é linda, sinto-me num filme a cada passo que dou, tudo é tão cinemático. as pessoas de bicicleta, os parques cheios de gente ao Sol. as senhoras que fumavam de uma shisha enorme sentadas num banco com um carrinho de bebé. a família com dois meninos com uma camisola de lã azul preta e branca que me faz lembrar a Estónia, com uma coluna a bombar techno (e os pequenos com óculos de sol pretos freneticamente dançando). lembro-me das três raparigas na noite em que chegámos, duas numa bicicleta e outra noutra, que riam e falavam alto pela noite fora numa ruela pequenina pequenina, debaixo de uma chuva ainda mais pequenina. campainhas "sorry guys" gargalhadas "damn you are faster walking than us" mais gargalhadas e cabelos a esvoaçar, o som de ser feliz. agora estamos no sótão, jogamos:
º cada pessoa escreve 4 palavras. 
º cada pessoa tira um papelinho.
1ª fase: a pessoa diz sinónimos
2ª fase: mímica
3ª fase: sons
4ª fase inventada: fazemos caras.

já comemos pizza e todos estão com cara de sono. o Lutz com a mão na cara e a Oli olhando para o tecto.


sexta-feira

solsolsol




qué ganas tengo del verano. y qué bonito es el castellano

quarta-feira

a medio de abril


11.04
tudo tem estado estranho como de costume. na sala estão amigas da Monika. ontem foi noite de Red Emperor. "did you do something stupid yesterday?" "well... yes, of course."
tenho saudades de fazer algo estúpido. saudades sem vontade, não me tenho mexido. vejo tantos filmes que me estou a fartar de cinema - mentira, isso não acontece. mas estou a fartar-me de ver tantos filmes. vejo e faço, não dos bons, para inglês ver, mas aqueles que se repetem na tua cabeça cena após cena, sempre a mesma cena. toda a minha vida anda à roda de filmes. filmes e saudade de coisas que fazia e das que não fiz. gostava que Cortazár me escrevesse umas instruções de como seguir aqui.

12.04
apresentações são uma seca. senti borboletas na barriga como não sentia há algum tempo e agora tenho demasiada adrenalina a cavalgar-me nas veias para me concentrar no rapazinho que olha para o seu papel e nos diz isto e aquilo sobre a globalização nas Filipinas. voltei ao colégio, a distância faz bem para respirar, bicho precisa de espaço para bater as asas. é quase verão aí mas aqui nevou ontem, nevou e fez-me sorrir. a cada floco preso nas pestanas, pensava mais e mais no quanto vou ter saudades daqui, mais uma vez as saudades. não há cervejas por duas semanas, é a desvantagem de riscar a pele para sempre. ou quem sabe, uma não há-de fazer mal.

domingo

a i r




it has been hard. confusing. tudo se vai fazendo a custo, ou nem tudo. comi a horas, meti o rolo na máquina, escrevinhei algumas coisas. tanta merda para fazer, penso e repenso. mas, menos mal, já se fez algo. o sol vai dando ares da sua graça, no chão ainda tudo está morto. primavera, não demores em chegar. ando e ando e ando. berlim não é assim tão fixe.

sexta-feira

genau



nada nada nada. 
nada faz sentido. e o quão reconfortante isso é. ver as coisas por aquilo que elas são. paz. não querer nada.
nada nada nada. 
a cada segundo somos um diferente.

domingo

lismos




os dias passam e eu não sei o chão que piso. sinto-me bem, às vezes. outras vezes não. e na maior parte do tempo não me sinto. o bicho cá dentro cresce e eu abafo-lhe os gritos que me dizem para ficar sozinha, para fazer como os elefantes. il faut faire comme les éléphants, quand ils sont malheureux ils partent. they vanish.  não sei quanto mais tempo conseguirei contê-lo. a surdina é uma solução-penso-rápido quando consegues ler-lhe os lábios e desmorona-se em menos tempo que o tempo que o meu chá levou a arrefecer.
perco o controlo. perco o controlo, uma e outra vez. sou o que não quero ser e tenho de viver comigo. todos os dias, todas as noites. tenho de viver contigo, tens de viver comigo. não sou o que quero ser. não sou quem sou e não sei se o sabes. espero que sim e desejo que não. puxo e empurro. eu não sei o chão que piso. tenho os bolsos cheios de pedras mas apenas as suficientes para o corpo se afundar. a cabeça mantém-se à tona mas o oceano abraça-me pelo peito com a força de mil homens. não consigo respirar. eu não sei o chão que piso. não hoje.

shoo, fly

cinco dias passados na cidade-eterno-amor. dois dias e meio a percorrê-la. tinha saudades tuas, Lisboa. um vegetariano divinal, dias que começam mais cedo que o habitual, a casa da minha irmã, dormir no sofá, copos de tinto aqui e ali. 

no dia em que cheguei estava nervosa.

conheci a Ieva num hostel em Vilnius, ela estava a trabalhar lá há uns meses, voltou à Lituânia para conhecer as suas raízes. vinte e um anos com mais vida dentro que os meus vinte e quatro. lituana e americana por alguns tempos. sempre me interessei por artistas quase mais do que pela sua arte. mas depois há pessoas que são arte e ela é uma delas. a maneira relaxada como encara a vida, o notebook de memórias, os sonhos escritos após o acordar, meias e sandálias, as trips em dias passados, o ukulele e a maleta de vime. "perguntaram-me no aeroporto se trazia um gato". é, há pessoas que são arte.

admirava-a e às suas curtas de longe, pelo facebook como seria de esperar. na semana passada recebi uma mensagem. "hi :) are you in lisbon?" ela vinha a Portugal, não tinha onde ficar e estava cansada da vida de hostéis. receber gente em casa sempre me deixa feliz, e há sempre lugar para mais um onde quer que estejamos. combinámos e o nervoso miudinho veio à tona. há pessoas que são arte.

sempre que penso que irei passar tempo com pessoas assim, não consigo evitar o desconforto que precede tais dias. penso que não sou suficiente, que não terei assunto interessante, que acabarei por acenar com a cabeça e não dar nada de mim. pareço tão pouca, mesmo que não o seja. afinal de contas no fim somos todos feitos da mesma carne, os nossos corações batem todos da mesma maneira. a nossa mente, essa pinta com diferentes cores; mas isso não nos pode deixar inseguros. temos de pensar no que podemos partilhar, no que podemos aprender. ela diz ser uma pessoa que gosta muito mais de ficar em casa em vez de sair. ficou na quarta até às três a ver um episódio de mr. robot.

tinha saudades tuas, Lisboa. mas quando te vi, te estranhei.
o amor continua cá mas estamos como duas estranhas que se conheceram a fundo um dia.
estás igual mas diferente e eu igualmente diferente estou.

uma tarde infinita no pátio da casa independente. mais arte personificada encontrou caminho para a minha vida neste crepúsculo. a Emelia tem uns olhos castanhos tudo menos banais e um gorro que me fez lembrar o wally. é designer, tem um namorado baterista. "o Charlie ia adorar este bar". ambos são adoráveis. é amiga de uma amiga minha e está de visita. as quatro, tinto, uma mesa e histórias e mais histórias.

Lisboa, voltar a ti foi estranho; pareces parada no tempo enquanto eu volto com a sensação que passaram mil anos. mas tardes assim são o que me faz perceber que parte do meu amor por ti reside naqueles com quem te divido. "you can't really be grumpy in Lisbon for too long".

ela tem razão.
continuo a te estranhar mas não me assusto mais com isso.

não fui a concertos, que era o que me puxava a voltar. seis meses sem me perder numa sala ao som de uma banda qualquer pareceram infinitos. sexta-feira 13, gigs espalhados pela cidade. fui ao cinema pegar um blockbuster qualquer e ouvir uns putos a ser putos. o mais bonito é que isso não me irritou, ou pelo menos irritou menos que aos "shius" que pairavam no ar constantemente. são crianças a ser o que são e isso fez-me sorrir no escurinho do cinema. depois dormi. dormi descansada.

não sabia muito bem como começar aqui. que palavras te dizer. a minha mania de querer que seja sempre tudo à hora certa, tudo no tom certo. mas apercebo-me. não está tudo - está confuso - ainda me preocupo se está bom. se chama gente. mas tento não o fazer. não interessa. "estamos onde estamos como estamos". por agora, estou aqui.

e isso basta.
olá, mundo.