domingo

lismos




os dias passam e eu não sei o chão que piso. sinto-me bem, às vezes. outras vezes não. e na maior parte do tempo não me sinto. o bicho cá dentro cresce e eu abafo-lhe os gritos que me dizem para ficar sozinha, para fazer como os elefantes. il faut faire comme les éléphants, quand ils sont malheureux ils partent. they vanish.  não sei quanto mais tempo conseguirei contê-lo. a surdina é uma solução-penso-rápido quando consegues ler-lhe os lábios e desmorona-se em menos tempo que o tempo que o meu chá levou a arrefecer.
perco o controlo. perco o controlo, uma e outra vez. sou o que não quero ser e tenho de viver comigo. todos os dias, todas as noites. tenho de viver contigo, tens de viver comigo. não sou o que quero ser. não sou quem sou e não sei se o sabes. espero que sim e desejo que não. puxo e empurro. eu não sei o chão que piso. tenho os bolsos cheios de pedras mas apenas as suficientes para o corpo se afundar. a cabeça mantém-se à tona mas o oceano abraça-me pelo peito com a força de mil homens. não consigo respirar. eu não sei o chão que piso. não hoje.

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