quinta-feira

éire [ˈeːɾʲə]

não sei bem o que é; sei que me pareceu triste no início; mas sei também que tem algo que me puxa; que me leva a querer descobrir mais; o céu cinzento; as estradas cinzentas; os prédios cinzentos; tudo cinzento; mas ainda assim; alguma coisa me diz que há algo mais debaixo daquele peso todo.

terça-feira

🌧️🌧️🌧️



sempre grata por poder começar os meus dias assim<3

sábado

solsolsol

não conseguir desfrutar deste calor confessamente invulgar porque assumo sempre o mesmo (mau) e me ponho a pensar na catástrofe climática que poderá estar na causa dele, enquanto ignoro a minha catástrofe emocional pessoal de não conseguir aproveitar as coisas. de sempre igualar algo que foge ao meu normal a algo mau que está a acontecer/que ainda está por acontecer. de encarar o que é.    a catástrofe de não conseguir olhar para o sol que teima em brilhar e pensar "boa, é o sol", sorrir e seguir o meu dia feliz por ainda não terem chegado os dias cinzentos.    a catástrofe de me focar na desgraça iminente que 28 graus em fins de outubro podem estar a adivinhar. //porque mesmo que seja assim e que tudo vá pelo cano abaixo, de que vale focar-me nisso//



(mas também pode ser que este pânico todo da vida e de viver tenha a ver
com o facto de dormir pouco, tarde e a más horas. é algo a averiguar)

sexta-feira

bairro da graça II

    (fui à Graça — 44:38:35 minutos a caminhar — e senti-me aliviada pela cerca continuar a ser um porto seguro no meio de um bairro que sempre amei mas que reconheço cada vez menos. gostava de não sentir o que sinto, mas é como se me fossem arrancando pedaços do corpo, e a cada vez mais velocidade, não tem como o coração ficar quieto. a crew hassan que passou a ser um supermercado, o portão do logradouro dos A70/núcleoA70 que continua fechado anos após serem expulsos pela senhoria de olhos postos num hotel, a padaria artesanal com a senhora querida de cabelo curto que eu via todos os dias a caminho do trabalho e que agora é loja de kebab, o meu querido Mortara que foi desventrado e agora se apresenta num nem sei o quê cheio de azulejos de cores pastel que vende beterraba frita a mil euros e eu nem tive coragem de falar com o Gabriel sobre isso (o nosso primeiro date foi lá). queria muito não sentir esta raiva, aceitar que a vida muda, que os lugares se vão, mas sinto cada vez menos que pertenço, ou, pior, que sou forçada a não pertencer. às vezes pergunto-me se será apenas pessimismo, se eu que vejo a vida de outra forma agora, se tudo continua igual e eu que mudei, mas no fundo sei que não, sei que andar por lisboa, pela minha lisboa, é agora como quando esbarramos na rua numa pessoa de quem já gostámos muito e que hoje a sentimos outra. por agora, de volta à alameda, a banda sonora do filme Amélie ecoa pela rua e eu tento acreditar que a esperança ainda existe e ganhar forças para sair à rua em busca de novos pedaços para tentar colar no lugar de onde os outros me forram arrancados. talvez não seja bom sermos feitos de sítios, mas eu não sei ser de outro jeito.)

      

(a graça e a penha  por mim)

(a graça pelo leo, em 2019)

quinta-feira

bairro da Graça

estou sentada ao computador, a resistir, como sempre, fazer o que tenho a fazer para os vídeos da horta. o meu vizinho está a tocar o cavaquinho dele e o ar parece estranhamente cheio de algo que me transporta para Berlim, ou para um sítio desses, com imagens de canais e vegetação (gosto tanto de canais). há um passarinho que canta, e que me fez tirar os fones mais cedo para ver se era mesmo real ou se o canto que estava a ouvir era da música. por algum motivo, parece primavera, e isto confunde-me, mas também me enche de qualquer coisa viva. sinto uma vontade desmedida de me levantar, pegar no caderno, nos fones, e partir em direção à Graça-

só para ver a vida a acontecer-

segunda-feira

um dia

where will all of this go if one day we disappear and/or one day computers and phones and the internet disappear

what will be of all of these words, all of these memories, all of these images pictures advice, where will they all go, will they keep existing in the ether

sábado

(uma playlist da namorada do Mac Demarco)

young Kiera coming through with dreamy, breezy mix of soft rock, folk, vintage pop, & other delights

terça-feira